Futebol e política tem muita coisa em comum. Tanto em uma como em outra atividade, existem torcidas organizadas, muita discussão, bandeiras, algazarras, agressões físicas, verbos correndo desenfreados e muita paixão envolvidas. E tanto em uma como em outra, igualmente, são poucos os ungidos (os eleitos, os campeões etc.) e muitos os derrotados.
No quesito das torcidas organizadas, cada qual devidamente fantasiada com as cores da sua agremiação (o partido ou o time), dependendo da arena do confronto, pode valer até dedo no olho (pra não falar aqui em alguma parte pudenda), xingamentos a todas as gerações anteriores e posteriores, rojão, vaia e papel picado jogado ao vento.
No que diz respeito ao tratamento dispensado pelos defensores (tanto faz se dos candidatos ou das respectivas grandes áreas), é fato que o mais importante é mandar a bola para o mato. Ou então, em caso de enfrentamento com atacantes (no caso do futebol) e marqueteiros (no caso da política), se alguém rondar as suas metas, a ordem é descer o porrete!
Mão na bola, no futebol, é falta grave. Deve ser punida com um tiro livre direto. Se for perto do gol, o árbitro assinala o ponto da cal, a marca do pênalti. Na política, falta grave é compra de voto. Como não existe pênalti nesse tipo de atividade, o culpado pode até “ir em cana”. Na melhor das hipóteses, caso seja campeão (eleito) perde o direito de beijar a taça.
Mas existem também várias diferenças entre essas atividades. Na política, por exemplo, nem sempre ganha o melhor. Não são raras as vezes em que boa parte do eleitorado se arrepende amargamente do candidato eleito. Já no futebol, o melhor, aquele que joga uma bola redondinha, esse quase sempre se dá bem, faz mais gols e atrai os melhores investimentos!
Também existe uma diferença na terminologia empregada pelos protagonistas do futebol e da política. No futebol, pratica-se o “futebolês”; na política fala-se o “politiquês”. No futebol todo mundo é “professor” (do bandeirinha ao gandula, passando pelo técnico e o massagista); na politica todo mundo é “excelência” (do eleito ao assessor de porra nenhuma).
E existe ainda uma diferença fundamental no tocante às campanhas. Na política, nem sempre a melhor campanha faz do seu candidato o campeão. Ótimas campanhas políticas podem não chegar a lugar algum. Enquanto isso, no futebol, principalmente quando o campeonato é do tipo pontos corridos, a melhor campanha leva sempre o protagonista ao pódio.
Coincidentemente, porém, voltando às semelhanças, existe uma palavrinha que pertence tanto aos dicionários do futebol quanto da política: ladrão! Árbitro de futebol para a torcida contrária é sempre ladrão. Político do partido vencedor, no ponto de vista dos adversários, também é sempre ladrão. O samba diz que “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!”
Francisco Dandão