Sete ondas

Virei o ano na beira do mar. As areias cálidas da praia de Iracema, em Fortaleza, acolheram os meus pés para o ritual de mudança de um ciclo solar para outro. Apesar de já haver passado vários réveillons na cidade, foi a primeira vez que eu me animei para ver a comemoração bem de pertinho.

Cheguei umas duas horas antes às imediações do local onde acontece a festa. De longe já deu pra ver que seria muito difícil chegar à frente do palco onde a atração principal seria a baiana Cláudia Leite. Quase todas as pessoas vestiam branco. Um tapete vivo serpenteava ao longo da avenida.

Lá pelas tantas encontrei o ex-lateral e atual técnico de futebol Paulo Roberto. Ele e a sua família passam férias no Ceará. Os encontrei batendo em retirada. “Não dá pra chegar lá perto, mestre”, disse-me o Paulo. “Há uma barreira intransponível de gente naquele rumo”, completou sorrindo.

Insisti em caminhar na direção do palco, mas logo constatei, às próprias custas, a extensão do aviso do Paulo. Porém não desisti total. Em vez de retroceder sobre os meus passos, me encaminhei para a faixa de areia. Lá também havia muita gente. Mesmo assim consegui um espacinho.

E então, eu, juntamente com a minha mulher Maria, o meu filho Iung, o minha neta Ivi e o meu afilhado Fabinho, uns residentes e outros de passagem por Fortaleza, demos um jeito de nos acomodar perto de umas enormes pedras para ver o ano velho ir embora e para receber o sucessor.

Valeu a pena conseguir um minifúndio de areia para esperar a queima de fogos. Foi um espetáculo de rara beleza. E, de acordo com o que eu ouvi depois nos telejornais, Fortaleza foi o estado brasileiro que proporcionou a mais longa salva de rojões nessa recente virada do ano.

Em torno do local onde eu montei o meu acampamento, enquanto esperava o momento exato para mirar o céu, olhei os rostos mais próximos e tentei exercitar a imaginação. Desconhecidos entre si, mas com uma única expressão. Máscara de plena esperança no futuro era a expressão!

A esperança é a força motriz que não deixa ninguém desistir quando tudo parece perdido. E no fim de cada ano essa esperança costuma ser renovada nos corações. Alguns acham que é só mudar o dígito que denomina o ano que tudo irá se resolver. Outros apostam nas simpatias.

Eu, que não acredito em bruxas (embora saiba que elas existem), e que sempre faço uso da razão, não sou desses ligados em simpatias. Por via das dúvidas, porém, dei um jeito de pular sete ondas assim que deu meia noite. Meu pedido: Fluzão campeão do mundo no fim de 2017. Só isso!