Todo ano é a mesma coisa. Quando agosto se encaminha para os seus estertores a fumaça toma conta dos céus da Amazônia. Antes dos caminhos se encherem das flores da primavera, é certo que o fogo destruidor, de origem criminosa ou ateado pela ignorância, se espalha pela flora ressequida.
Se um inglês, numa certa noite, dormisse em Londres e acordasse em Rio Branco, nessa época do ano, só saberia que não estava em casa quando tentasse respirar com mais força. Antes de dar uma inspirada mais profunda no ar, certamente ele imaginaria que estava no meio do fog londrino.
Esse mesmo inglês, acostumado às histórias da Távola Redonda, apertaria os olhos achando que a qualquer hora o mago Merlin sairia do meio do nada aconselhando o rei Arthur a buscar sua espada na lagoa encantada para tosquiar os carneiros antes de os lobos tentarem tirar as peles destes.
E não tem aviso de ecologista ou defensor da natureza que dê jeito. Todo mundo está cansado de saber que o planeta agoniza com os modelos de desenvolvimento ora vigentes. Todo mundo sabe, mas, de verdade mesmo, quase ninguém quer saber das consequências. O que conta é o aqui e agora.
Existem, inclusive (ou principalmente), aqueles que negam tudo. Para estes, o mais importante é a peneira e não sol. No discurso negacionista, aquecimento global é coisa de comunista. E logo, daqui a pouquinho, quando a chuva chegar, a fumaça irá embora. E todos respirarão bem até o outro ano.
Nessa história de negar o que não pode ser negado, eu lembro de uns políticos do passado não muito distante da terra de Galvez que garantiam que no espaço territorial acreano não existiam queimadas. No argumento deles, a fumaça que a cada ano antecedia a primavera vinha toda da Bolívia.
É claro que eu não acreditava. Mas, quando eu me lembrava que os comerciantes de Cobija sempre queriam me vender uísque e perfume made in Paraguai, eu tratava logo de dar razão aos políticos. Melhor culpar mesmo os bolivianos, que trocaram um pedaço do reino deles por um pangaré.
Mas, voltando ao fio da meada, a fumaça afeta a tudo e a todos. No caso do Acre, até o futebol foi afetado. Por conta desse flagelo os torneios das divisões de base foram suspensos até que o ar melhore. Se isso demorar, penso eu, o jeito vai ser distribuir máscaras de oxigênio para os jogadores.
Falar nisso, e para arrematar esse papo furado de hoje, eu lembrei que antigamente não se suspendia o futebol por causa das fumaças de agosto/setembro. Jogava-se com fumaça e tudo. Fato que servia como desculpa perfeita para os frangos que os goleiros levavam. Gol da fumaça!