Agora é a vez de representantes de federações falarem à CPI – cinco estarão no próximo dia 30/9 em Brasília. O que há de agregador a uma investigação em busca de respostas à falência do futebol brasileiro, depoimentos de presidente de entidade estadual que precisa se aliar à CBF para sobreviver?
O pedido da quebra do sigilo bancário e fiscal de Marin é quase como chutar cachorro morto. O ex-presidente da CBF está preso na Suíça e negocia extradição para os Estados Unidos.
Mesmo que os dados comprovem falcatruas – fato que o FBI já sabe (por isso pediu sua prisão) -, acrescentará não mais do que descobrir o quanto recebia de dinheiro sujo. Já sobre de onde vieram os depósitos, só mesmo uma investigação profissional – operações desse tipo deixam pouco rastro por questões óbvias. O FBI se envolveu no caso por que usaram bancos norte-americanos às movimentações ilegais, mas ainda trabalha para saber de onde exatamente se originaram.
Outro que a CPI aprovou a quebra de sigilo bancário e fiscal é José Margulies, acusado pelo FBI de lavagem de dinheiro, fraude e extorsão. Ele já trabalhou com J. Hawilla (hoje, o empresário brasileiro vive nos EUA com tornozeleira eletrônica e é “X9” do FBI) e negociava contratos comerciais no futebol.
Há requerimento do colegiado do Senado para convidar dirigentes de clubes da Série A do futebol para falar à CPI. Tirando alguns nada confiáveis, como Eurico Miranda, outros podem dar boas contribuições.
Poderiam dizer, por exemplo, da necessidade de criar uma liga nacional de futebol na qual os clubes negociariam diretamente com patrocinadores e emissoras de televisão, brigando realmente pelas melhores propostas financeiras – e não aquelas que pagam a mais alta comissão à confederação, como sugerem às investigações do FBI.
O tema criação de liga ganhou força depois dos escândalos envolvendo a CBF, Conmebol e Concacaf, as três entidades que controlam o futebol nas Américas.
Aqui no Brasil, o primeiro passo dos clubes nesta direção é o chamado grupo Sul-Minas-Rio, que pretende já no ano que vem promover um torneio entre seus membros. A outra é a Liga das Américas, no âmbito do continente. Mas muitos ainda estão preocupados com possíveis retaliações da CBF.
Enquanto isso, a CPI vai recolhendo depoimentos, requerendo informações de contratos – nada diretamente à TV Globo, aparentemente blindada no Senado, embora detenha valiosos contratos com a CBF.
Ao final, o relatório da CPI provavelmente recomendará indiciamento de alguns. Mas como o FBI até lá já deve ter denunciado outros cartolas (como o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero), não será difícil concluir que a entidade é o retrato triste do Brasil corrupto. E só a refundando para mudá-la.