Sua Excelência, José Ribamar Pinheiro de Almeida, um dos melhores árbitros do futebol acreano de todos os tempos, deixou amigos e familiares órfãos no começo desta semana. Foi morar no infinito, virar constelação. Resistiu o quanto pode a uma enfermidade. Mas, enfim, partiu.
Eu o chamei de “Excelência” aí no primeiro parágrafo porque entendo que essa seria a melhor forma com a qual ele deveria ser tratado, tanto em vida quanto além dessa condição. Eu diria que a marca da excelência foi a que ele sempre imprimiu em tudo a que sempre se dedicou.
Como árbitro de futebol, nem se fale. Antes de estudar as regras e ser integrado à então Federação Acreana de Desportos, com sede em Rio Branco, de modo empírico ele já brilhava no desporto xapuriense. Ele apitava com raro brilhantismo de forma meramente intuitiva. Um talento!
Para ser alçado à condição de árbitro “federado”, com diploma, curso, treinamento e tudo o mais, bastou ao Ribamar ser visto uma vez em ação por alguém da capital. Justamente o também lendário árbitro Adalberto Pereira, que havia levado uma delegação estudantil à Xapuri.
Por aqueles dias, Ribamar andava envolvido numa querela com um juiz de direito da sua cidade. Polêmico e rebelde, Ribamar vivia desobedecendo à autoridade. Foi inclusive preso, enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Mudar para Rio Branco acabou sendo providencial.
Mas a atividade como árbitro de futebol foi só uma das suas facetas. Em Xapuri, na década de 1960, ele foi também locutor de alto-falante, líder estudantil, atleta (lateral-direito do Brasília), dirigente esportivo, promotor de eventos sociais, jogador de dominó e eficaz cabo eleitoral. Quase tudo!
Depois de migrar para a capital foi comerciário, escrivão de polícia, agente administrativo no Incra, fiscal do Ministério do Trabalho, membro da Advocacia Geral da União e técnico de futebol, incluindo nessa categoria times femininos e masculinos. Um sujeito de sete instrumentos!
Fora tudo isso, o Ribamar era uma criatura de opiniões absolutamente peculiares, muitas delas na contramão do pensamento geral. Para ele, por exemplo, o futebol acreano do presente era muito melhor do que o praticado no passado. E ainda torcia fervorosamente pela Argentina!
Sua Excelência, José Ribamar Pinheiro de Almeida passou pela vida com inquietação. No fim de 2015 eu e o Manoel Façanha o entrevistamos. Mesmo debilitado, ele não demonstrou arredar pé das suas convicções. Discordava do conceito e da coisa. Partiu. Transita agora entre as estrelas!