Sou um saudosista assumido. Principalmente em se tratando do mundo do futebol. Pequenos detalhes de outros tempos do esporte bretão costumam perseguir os meus neurônios durante horas, garantindo-me como era divertida e prazerosa tanto a prática quanto a seguida discussão do jogo.
A questão dos apelidos, por exemplo, nos tornava como que mais próximos e íntimos dos protagonistas do espetáculo. Quase todo personagem do futebol respondia por um apelido. E até os cronistas esportivos costumavam acrescentar algum epíteto ao seu nome próprio.
Na atualidade é tudo tão diferente, tão distante, que a gente sente os personagens praticamente como se fossem entidades de outra realidade. Apelido, que é bom, dificilmente ainda se encontra em algum jogador. Quase todos os caras são chamados pelo nome e o sobrenome de batismo.
Eu fico pensando em como seria um locutor do passado narrando, nos dias atuais, uma jogada de Garrincha e Pelé. Ele teria que dizer alguma coisa mais ou menos assim: “Desce pela ponta direita Manuel Francisco, dribla três adversários e cruza para a cabeçada certeira de Edson Arantes”!
Segundo as teorias que infestam as ciências sociais, foi a pós-modernidade que criou essa nova forma de se expressar. Temos que ter muito cuidado ao chamar alguém por algum apelido. Qualquer coisa pode melindrar, pode gerar uma confusão. Ser politicamente correto é que conta!
Mas o que eu queria (quero) dizer de verdade nessa crônica de hoje é que a Associação de Cronistas Esportivos do Acre (Acea) trocou de comando na semana passada. O historiador, jornalista, editor, repórter e escritor Manoel Façanha passou o bastão para o radialista Alberto Casas.
Pois muito bem. Você, meu leitor, deve estar se perguntando o que uma coisa (o meu saudosismo dos apelidos) tem a ver com a outra (a troca do Manoel Façanha pelo Alberto Casas no comando da Acea). O que tem a ver é que se isso fosse num outro tempo eu chamaria os dois por apelidos.
E então, em vez de contar a história chamando-os pelos seus nomes próprios, de forma tão sisuda, solene e politicamente correta, como mandam os diversos manuais da pós-modernidade, eu diria algo como: “Substituição no time da Acea. Saiu ‘Diabim’ e entrou ‘Cabeça Branca’”.
Por último, voltando ao politicamente correto, eu diria que o Façanha cumpriu com raro brilho a sua missão à frente da entidade maior da crônica esportiva acreana nos mais de 15 anos que a dirigiu. Quanto ao Alberto, eu não tenho dúvidas de que ele trilhará os mesmos caminhos do antecessor.