Meu amigo Manoel Façanha, respeitadíssimo cronista esportivo do Acre, possuidor do maior acervo fotográfico do esporte regional, com ênfase no futebol, texto correto e click primoroso, é uma pessoa pra lá de precavida. Toma todos os cuidados possíveis a cada passo, independente de quarentena.
A casa do Façanha, ali nas imediações do horto florestal, é quase uma fortaleza de tão bem protegida. Cercada de grades e com câmeras apontando para todo lado, ainda tem, além disso, uma matilha de cachorros enormes, criados com carne crua, que farejam o perigo a quilômetros de distância.
E fora tudo isso, existem mais uns itens que ajudam a não passar nem rato ensebado pelo portão dele. Caso de um sistema de vigilância, dotado de potentes gravadores que captam até suspiro de formiga num raio de quinhentos metros. Gravadores que funcionam até com a energia desligada.
Essa parafernália de segurança toda faz o maior sentido. É que uns anos atrás (anos para a frente só na ficção hollywoodiana, né não?) os amigos do alheio fizeram uma visita à casa do Façanha e levaram uma parte do equipamento de trabalho dele. Depois disso, ele redobrou os cuidados.
Os cuidados, porém, não são suficientes para eliminar todos os sobressaltos. O Façanha está bem protegido, sim senhor, mas ele sabe que pra bandido toda a cautela ainda é pouca, uma vez que os caras do mal, os safados e vagabundos, sempre encontram um jeito para burlar a segurança.
Eis que, então, por conta desse eterno estado de alerta, no fim da tarde desse sábado que recém passou o Façanha tomou o maior susto, quando os cachorros dele fizeram um grande escarcéu na área localizada em frente à casa. Os animais faziam tanto barulho que pareciam estar acuando uma onça.
O Façanha, que estava distraído, assistindo pela sexta vez a reprise da final da Copa do Mundo de 1970, justo na hora em que o Pelé estava dando aquele passe milimétrico para o gol do capitão Carlos Alberto, correu para vistoriar as câmeras. E aí viu um mascarado numa moto em frente da casa.
Os cachorros acuando, as câmeras piscando uma luzinha vermelha, alguns vizinhos já postados por trás dos respectivos portões, e o mascarado nem aí, nem sinal de ir embora. De vez em quando, o tal mascarado ainda se espichava na tentativa de ver alguma coisa por entre as grades do muro.
Aí o Façanha resolveu ver do que se tratava. Mas não sem antes se certificar que ninguém pedira um delivery. O mistério só foi resolvido quando a criatura baixou a máscara. Tratava-se do webmaster Rodrigo que fora buscar um pen drive. A máscara era proteção contra o vírus. Um susto!