Uns meses atrás (tempo pra frente só na ficção hollywoodiana, né não?), quando estive batendo pernas por Rio Branco, encontrei almoçando na Pizzaria Água na Boca um amigo de infância e adolescência: João Thaumaturgo Neto, filho do ex-deputado estadual Francisco Thaumaturgo.
Aí, claro, levamos um papo cheio de reminiscências, rememorando passagens de quando convivemos, na segunda metade da década de 1960, estudantes que éramos do Colégio dos Padres, ali naquele prédio que fica na Avenida Epaminondas Jácome, pertinho da ponte Coronel Sebastião Dantas.
Lembramos muitas coisas daquele tempo, mas o que fluiu com mais força da nossa memória foram as escaramuças em que estivemos envolvidos por conta de um time de futebol de salão que resolvemos criar, no segundo semestre de 1968, quando eu estava com 12 anos e o Neto estava com 13.
O ano de 1968, de acordo com o escritor Zuenir Ventura, foi aquele que jamais acabou. Foi também o ano em que foi instituído o famigerado Ato Institucional Nº 5, que resultou na perda de mandatos de grande parte dos políticos que faziam oposição à ditadura militar. Um ano duríssimo!
Isso tudo, entretanto, essas filigranas políticas, passavam alheias à nossa percepção de crianças. Para nós, pouco importava o que estava acontecendo nos porões do país ou, muito menos, quem é que ditava as ordens. O que a gente queria mesmo era bater a nossa bolinha de cada dia.
Como nós, que estávamos cursando a primeira série ginasial, éramos mais jovens do que os meninos das classes mais adiantadas, naturalmente não tínhamos nenhuma chance de “pegar” a seleção da escola. E assim, resolvemos criar o nosso próprio time, denominado “Time dos Despeitados”.
O nosso time não tinha reservas. Éramos apenas os cinco titulares. Nosso goleiro era o João Renato (filho do técnico Olavo Pontes). Na defesa (naquele tempo, no futebol de salão ninguém falava em “fixo”, “pivô”, “alas” etc.) formavam o Renildo e o Neto. Na frente jogávamos eu e o Formiga.
O João Renato pegava demais. Provavelmente teria se tornado um dos melhores goleiros do Acre se não tivesse sido vítima de um acidente que lhe ceifou a vida muito cedo. O Renildo e o Formiga eram exímios dribladores. O Neto tinha um canhão no pé direito. E o papai aqui completava o quinteto.
O nosso uniforme era amarelo (bem esmaecido), com uma faixa branca horizontal na altura do peito. Os meiões eram amarelos. O calção era branco. Os tênis eram Conga ou Kichutes (não creio que ainda existam). Jogávamos todos os sábados na quadra do Colégio Acreano. Recordações!