Bato pernas por Natal, a bela capital potiguar, por esses dias. A cidade continua encantadora, tal e qual como na última vez em que estive por aqui. Até a chuva repentina (e passageira) continua igual. Do nada, sem nenhuma nuvem no céu, sem mais nem menos, cai um pé d’água. E para em seguida.
O estranho, bizarro mesmo, é como a gente gosta de um lugar e, no entanto, demora tanto para retornar. No meu caso, passaram-se dez anos desde que estive na cidade pela última vez. Como por encanto, dez anos ficaram para trás entre aquele setembro de 2008 e este agosto de agora.
E olhe que eu sou vizinho do Rio Grande do Norte. De Fortaleza até Natal são apenas 500 quilômetros. Quase nada. Vindo de avião, mal dá tempo de tomar o suco artificial que a companhia aérea distribui. O saco de salgadinhos com o seu conteúdo indefinível, esse nem pensar em abrir.
Mas eu dizia era que a cidade continua encantadora. Principalmente para quem se hospeda na Ponta Negra, com vista para o peculiar morro do Careca, onde se chega após uma agradável caminhada por uma ruazinha bem estreita. Dizem que a rua é estreita para que as pessoas se encontrem!
Encantos à parte, porém, o que sai na mídia faz com que os visitantes fiquem um tanto apreensivos. Num dos jornais impressos locais de sexta-feira, 10, por exemplo, um título dá o tom do alarme, garantindo que o Rio Grande do Norte é o estado mais violento do país. Deveras assustador!
A consequência disso é que a gente acaba se recolhendo cedo da noite para o quarto do hotel. E mesmo durante o dia, a recomendação é um olho na paisagem e outro nos transeuntes que caminham na nossa direção. A rua é estreita para que as pessoas se encontrem, mas todos agora são suspeitos.
No meio dessas reflexões, entretanto, para que não se demonize a capital potiguar, convém que se ressalte que essa situação de sobressalto não é um fenômeno local. Praticamente todas as grandes cidades brasileiras nos dias que correm reclamam para si o título de mais violenta. Quase todas.
Um dia desses, eu li na internet que o Ayres Rocha, apresentador de um telejornal em Rio Branco, chorou no ar depois de narrar mais uma barbaridade perpetrada pela bandidagem que toca o terror no Acre. E no Ceará, onde eu moro, se sucedem as chacinas e as fogueiras de ônibus.
Ou seja: apesar das manchetes da mídia do Rio Grande do Norte, eu não tenho tanta certeza se o título de lugar mais violento se ajusta à terra dos potiguares não. Não creio que exista no Brasil um lugar mais violento do que os outros. Esse é um campeonato em que todos estão sendo rebaixados!