Por esses dias eu estava revisitando papéis aqui dos meus mais do que bagunçados arquivos e me deparei com uma entrevista que eu fiz com o saudoso árbitro José Ribamar Pinheiro de Almeida, o mais sarcástico e sincero dos homens do apito do futebol acreano, falecido em janeiro de 2017.
Lá pelas tantas, no meio da nossa conversa, testemunhada pelo meu afilhado Manoel Façanha, que registrava a cena com a sua admirável capacidade de fotografar detalhes, eu perguntei ao Ribamar quais os jogadores mais chatos com quem ele tivera o desprazer de trabalhar.
Sem hesitar, ele nomeou os três camaradas que considerava piores, aqueles que tentavam de todas as maneiras atrapalhar as ações da arbitragem em favor de si. No dizer do José Ribamar, os três sujeitos eram o volante Emilson Brasil, o meia-armador Dadão e o atacante Bruno Couro Velho.
Segundo o José Ribamar, o Emilson não parava de falar o jogo inteiro. Era um conversador, sempre querendo embotar o raciocínio do árbitro. Contava piadas sem graça e ria sozinho, na ideia de distrair Sua Senhoria, para que este errasse as marcações, tanto faz se para um ou outro lado.
Já o Dadão, era o cara que pedia faltas ao seu favor, onde absolutamente não existia nada; pedia impedimentos dos adversários, quando os caras estavam pelo menos meio metro atrás dos defensores; e caía em campo ao menor toque, se imaginasse uma vantagem qualquer que fosse.
Mas ninguém, sempre no dizer do entrevistado José Ribamar, superava em termos de chatice o Bruno Couro Velho, um centroavante oriundo de Brasiléia, a vida inteira a serviço do Rio Branco, sem qualquer intimidade com a bola, e que cometia muito mais faltas do que fazia gols.
O problema do Bruno Couro Velho é que ele amava uma pescaria, atividade à qual se dedicava, aos sábados e domingos, sempre que estava de folga das jornadas esportivas. Acontece que em épocas de campeonato, para desgosto dele, havia muitos jogos do Rio Branco nos finais de semana.
Como não podia faltar ao jogo, dado que o Rio Branco lhe dava casa, comida e roupa lavada, o Couro Velho já entrava em campo com a intenção de ser expulso. Aí, ele fazia todo tipo de provocação aos árbitros, bem como batia sem dó nos adversários. Às vezes dava certo e ele era expulso mesmo.
Até que em dia, sabedor da malandragem do Bruno, depois de duas entradas violentas dele nos adversários e vários palavrões dirigidos ao árbitro, Ribamar saiu-se com essa: – Couro Velho, eu sei o que tu queres fazer. Mas tu hoje podes até ficar nu em campo que eu não vou te expulsar!