TV brasileira interfere até na Olimpíada

Pelo alto-falante, depois de Brasil e Coreia do Sul, no Maracanãzinho, pela primeira fase do torneio olímpico de vôlei de quadra feminino, o locutor anuncia que os torcedores em direção à Zona Sul do Rio poderiam pegar o metrô, e àqueles rumo à Zona Norte, ônibus os aguardavam em frente à estação porque a Linha 2 que dá acesso à região não mais operava. Já se passava de meia-noite.
Na final do torneio de vôlei de praia masculino em Copacabana presenciei de novo o mesmo problema. Só que dessa vez na arena foi anunciado não existir mais metrô em operação àquele horário, que já cruzava 1 da manhã.

Os dois casos exemplificam o quanto ocorreu tarde alguns eventos esportivos no Rio, que embora tenha tido melhoria na mobilidade urbana, está ainda muito aquém de atender às suas necessidades. Mas para a televisão que tem os direitos de imagem do megaevento isso pouco importa – como acontece nos jogos de futebol no País no surreal horário de 22h, apesar de todos os riscos que o torcedor corre.

As emissoras que detém os direitos de transmissão pela TV fizeram mais. Mudaram horários de alguns jogos na fase final para atender sua grade, sem se importar se torcedores poderiam ser prejudicados. Isso foi visto pelo menos em duas práticas: vôlei e handebol.

A partida de quartas de final do handebol da seleção brasileira masculina foi alterada para atender a TV, de 13h30 para as 10h da manhã (tendo, portanto, troca de realização de partida). Quem tinha ingresso para o segundo horário, obtido assim por que a tabela original anunciava, ficou com o mico na mão.

Um segundo exemplo também ocorreu com o Brasil e nas quartas de final, mas dessa vez no vôlei feminino. O jogo em que foi eliminado pela China, devia inicialmente acontecer às 10h da manhã, como previamente divulgado, mas o time só entrou em quadra às 22h15 (tendo, de novo, troca de realização de horário de partida).

Eu mesmo sofri o problema na mesma modalidade. Tinha ingresso para semifinal imaginando que o Brasil passaria de fase, mas a China a superou. Mesmo assim fui ver a partida que apontava a finalista do torneio de vôlei feminino. Tamanha foi minha surpresa quando cheguei ao Maracanãzinho: ao invés de assistir China e seu adversário, a Holanda, me deparei com Sérvia e os EUA, da outra chave. Alguns holandeses também caíram na armadilha, pois vi vários deles no mesmo confronto que eu estava.

O COI reconheceu que os horários podem mudar de acordo com os interesses das emissoras detentoras de direitos. Em nota oficial divulgada à imprensa, a Globo explicou que não altera horários das partidas das modalidades, mas que “ao fim de cada fase, as TVs dos países envolvidos podem apontar o horário de preferência”.

Bruno Schmidt, da dupla medalhista de ouro no vôlei de praia, reclamou que não deveria ter partidas tão tarde da noite, sem citar o fato da questão estar amarrada à TV.

A jogadora Thaisa tentou ser mais direta e disse que o torneio não deve atender apenas aos interesses da mídia, numa referência aos horários tardios que a seleção brasileira de vôlei atuava nos Jogos Olímpicos para se adequar à televisão.

Talvez esses horários um tanto esdrúxulos em algumas modalidades justifique a falta de torcedores nas arquibancadas na Rio 2016, pois aqui eles continuam em segundo plano, mesmo em Jogos Olímpicos.