Luisito Suárez, atacante da seleção do Uruguai, peça vital da equipe na busca de melhor sorte na Copa do Mundo, ganhou as atenções do planeta por conta de uma prosaica mordida no ombro de um truculento zagueiro italiano. Com Luisito, o Uruguai impõe respeito; sem ele é um time comum, incapaz sequer de segurar até onze infantes costarriquenhos.
Terminado o jogo em que se deu a tal mordida, no qual, diga-se de passagem, os retranqueiros (eles chamam retranca de “ferrolho”) italianos foram sumariamente eliminados da Copa, restou aos referidos compatriotas de Dante Alighieri (autor de “A divina comédia”, cuja primeira parte se chama “Inferno”), botar a boca na janela e culpar o fato pela derrota.
Como na época da Inquisição (que não tinha nada de “santa”, como lhe denominava a Igreja), o tribunal da FIFA tratou de se reunir às pressas e condenar o jogador uruguaio. Não existia defesa possível para fazer frente à acusação contra Luisito. O veredito era mais do que óbvio. Na sociedade disciplinar é preciso vigiar e punir, para que ninguém mais se meta a besta.
Nem os advogados mais ladinos, aqueles que costumam defender o diabo, seriam capazes de reverter a situação. Todos sabiam que o uruguaio seria castigado. Nas bolsas de apostas organizadas nos botecos, pubs e biroscas do universo da bola, a única especulação era quanto ao tamanho do castigo. Saber se o jovem facínora ainda jogaria ou não nessa Copa.
Luisito Suarez foi condenado! Sumariamente condenado! Terá que passar quatro meses longe da prática do futebol profissional. Terá também que pagar uma grana alta para a entidade mentora da Copa do Mundo. E terá, igualmente, que ficar nove jogos sem atuar pela gloriosa Celeste Olímpica, fantasma que assombra os torcedores brasileiros desde 1950.
No meu entendimento, a punição imposta a Luisito foi de um exagero absurdo. Um jogador que entra de sola na canela de outro, assumindo o risco de quebrar a perna do adversário, ou o sujeito que desfere uma cotovelada em outro, comete um ato de agressão maior do que uma mordida. Mas nenhum desses pega um “gancho” igual ao do uruguaio.
Além do mais, levando em conta que Luisito é reincidente nesse tipo de atitude e que já foi penalizado em outras situações semelhantes, fica mais do que evidente que o caso dele não é de deliberada má conduta. Em sã consciência, se agisse com a frieza dos criminosos calculistas, sabedor que dezenas de câmeras de TV o filmavam, ele jamais faria o que fez.
Se o caso não é de má conduta, mas de insanidade temporária (talvez um impulso de revanche depois de levar botinadas o tempo inteiro ou coisa que o valha), então, em vez de ser punido, Luisito merecia era ser tratado. Nada que um psiquiatra adepto das teorias freudianas não pudesse consertar. Aos cartolas da FIFA ofereço um copo de cólera como brinde!
Francisco Dandão