Quando eu vi a agitação do técnico do México depois que o Brasil abriu o placar naquele jogo de segunda-feira pelas oitavas de final da Copa da Rússia, não pude deixar de lembrar de dois livros que eu li na adolescência, de autoria de um antropólogo chamado Carlos Castañeda.
O primeiro livro, intitulado “A erva do diabo”, publicado em 1968, relatava os encontros do autor com um índio mexicano chamado Don Juan Matus. O tal índio era uma espécie de mestre de Castañeda no uso de plantas alucinógenas que, supostamente, aumentavam a percepção dos usuários.
Já o segundo livro, denominado “Uma estranha realidade”, publicado em 1971, era a continuação das experiências descritas no primeiro. Novamente o guru Don Juan Matus pegava na mão de Castañeda e o ensinava a se deixar levar para um espaço imaterial sob o efeito de drogas.
Numa época em que os jovens do planeta todo demonstravam profundo desencanto com as regras sociais e os respectivos valores morais, a saída para um mundo onde pudessem prevalecer a paz e o amor cantada nas canções populares parecia ser a liberação das energias do inconsciente.
Vivia-se o preâmbulo da Era de Aquarius. As guerras em que os Estados Unidos se metiam eram uma abominação. A acumulação de bens materiais não fazia sentido para a juventude, sequiosa de construir uma sociedade anárquica porém fraterna. Tudo deveria ser divino e maravilhoso!
Os livros de Castañeda encontraram nesse contexto um terreno fértil para proliferar os seus “ensinamentos”. Viraram best sellers. Se transformaram em manuais para todos os que só queriam uma “forcinha” para cair de boca nas drogas (antes só existia o sexo e o rock’n roll).
Mas, voltando ao fio da meada que deu o start para esta crônica, quando o Brasil fez o segundo gol o técnico mexicano ficou ainda mais agitado. A gesticulação desconexa, o rosto tingido de vermelho e os olhos esbugalhados dele reforçaram as minhas lembranças de Castañeda.
Aí veio o fim do jogo, com os mexicanos eliminados e as entrevistas com os mais diversos personagens de ambas as equipes. Sabem o que o Osório (técnico do México) disse? Que futebol era jogo pra homens, que o Neymar era um ator canastrão e um péssimo exemplo para “los niños”.
O que já estava esquisito, piorou de vez. O tal Osório se danou a falar tanta sandice que eu não tive mais dúvidas: ele leu Castañeda sim! Não somente leu como, muito provavelmente, fez experiências com cactos selvagens. A essa altura deve estar tentando se livrar da camisa de força!