A América já teve muitos donos. Os primeiros foram os nativos que cresceram nas selvas, planícies e montanhas ao longo de tanto tempo que eu nem saberia dizer quanto com absoluta certeza. Ninguém sabe o tempo certo. Dependendo de quem conta a história, pode ser um tempo ou outro.
Somente muitos séculos depois que os nativos já eram donos da América foi que os europeus chegaram por aqui. Os livros didáticos falam de um determinado Cristóvão Colombo. Mas nem isso se pode dizer com a mais absoluta certeza. Cristóvão foi o cara que, de fato, tomou posse. Só isso.
Depois dele, entretanto, o que a gente sabe é que muita gente se arvorou a dominar e tomar conta do pedaço. Afinal, se tratava de um novo mundo, recheado de riquezas e produtos para a respectiva exploração. O capital selvagem encontrou uma espécie de paraíso para a sua multiplicação.
Tanto a América foi explorada que serviu de mote para o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, falecido em abril de 2015, escrever um libelo acusatório espetacular intitulado “As veias abertas da América Latina”. O livro virou clássico, mas a situação praticamente não mudou.
Menos mal que tempos após a chegada de Colombo foi inventado o futebol (Eduardo Galeano também era apaixonado por esse esporte). E, dessa forma, todos os anos, ainda que por alguns dias, a América pode repousar nas mãos de outros donos que não sejam os banqueiros da ordem mundial.
Agorinha mesmo, o novo dono da América (pelo menos dessa que ocupa a maior parte do hemisfério sul) responde pelo nome de Grêmio de Futebol Portoalegrense. Pela terceira vez o time gaúcho conquistou essa América. Como diz a sua torcida, esse time é “louco por tri, América”.
O melhor de tudo é que dessa vez o direito de erguer sobre a cabeça o troféu representativo da vitória foi conquistado em cima dos argentinos. Que me perdoe o falecido compositor Belchior, mas um tango argentino jamais poderá ser melhor do que um blue. E um fandango gaúcho supera os dois.
Escrevo e fico lembrando os meus amigos espalhados pelas dimensões continentais do Brasil que torcem pelo Grêmio. São muitos. Mas destaco dois: os jornalistas Manoel Façanha e Eduardo Ritter. O Façanha tem um time do coração em cada estado brasileiro. O Ritter é só Grêmio mesmo.
Enfim, pelo menos por alguns dias a América tem um novo dono. Um dono tricolor. E como a vida não pode parar, até o fim do ano essa América pode se transformar no planeta todo. O Real Madrid que se cuide. O Grêmio é um desses times que não se rende nem morto. Pra cima deles, gauchada!