Valdir Silva chegou a duvidar que ele seria um craque de futebol quando crescesse. Foto/Francisco Dandão

Valdir Silva: o atacante paraense que virou ídolo no Tricolor de Aço acreano

Por Francisco Dandão

Ninguém na cidade paraense de Icoaraci que viu os primeiros chutes na bola do garoto Valdir Trancoso da Silva chegou a duvidar que ele seria um craque de futebol quando crescesse. Afinal, aos 15 anos, em 1963 (ele nasceu em 16 de agosto de 1948), o jovem prodígio já brilhava no time adulto do Pinheirense, que disputava o campeonato municipal da cidade.

Em 1965, quando o Pinheirense jogou um amistoso contra a equipe de masters do Paysandu, surgiu a primeira grande chance do artilheiro Valdir Silva. Ele deu a maior canseira no zagueiro Caim, que era treinador dos juvenis do time da capital. Daí, ele e o parceiro Nivaldo foram convidados para mudar de ares. E ambos se transferiram para o bicolor.

Embora Valdir tenha arranjado o seu lugar no time, que se sagraria campeão paraense pela décima primeira vez seguida, no ano seguinte ele resolveu voltar para a sua cidade natal. É que ele precisava de um uniforme para tocar na fanfarra da sua escola e o Paysandu não quis dar. O Pinheirense deu o dinheiro para o uniforme e Valdir prontamente aceitou.

Rodoviária (AM) – 1969. Em pé, da esquerda para a direita: Mário, Eustáquio, Ubiracy, Prego, Zé Maria e Brito. Agachados: Valdir Silva, Aldo, Diquinho, Wilson e Santiago. Foto/Acervo Valdir Silva.

Quando chegou o ano de 1967, Valdir novamente mudou de ares. Definitivamente, o horizonte de Icoaraci não dava conta do seu futebol. Ele fez mais uma vez o caminho para Belém, agora para vestir a camisa do Liberato de Castro. No final do ano, ele e o também atacante Manoel Maria, da Tuna Luso Brasileira, foram eleitos os destaques do campeonato.

O caminho do ocidente estava escrito nas estrelas

O Liberato de Castro foi extinto logo após o campeonato de 1967. Juntamente com ele, outros dois clubes fecharam as portas: o Júlio César e o Avante. Os três se juntaram para formar o Sporting Clube de Belém. E os melhores jogadores dos clubes que encerraram suas atividades foram convocados para vestir a camisa da nova equipe. Valdir estava entre eles.

Mas a passagem pelo Sporting Belém duraria pouco. Apenas alguns meses. No mesmo ano de 1968 dois caminhos se abriram para o futebol de Valdir Silva: Fortaleza, onde o Ferroviário o acolheria, e Manaus, onde o Sul-América o esperava. “Eu tinha vinte anos e escolhi Manaus, por causa da atração que a Zona Franca exercia sobre mim”, explicou o ex-atacante.

Olympico (AM) – 1970. Em pé, da esquerda para a direita: Catita, Orlandino, Urso, Bastos, João Pereira e Calderaro. Agachados: Valdir Silva, Luís Dark, Tamilton, Evandro e Raimundinho. Foto/Acervo Valdir Silva.
Combinado Nacional/Olympico (AM) – 1970. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Maria, Iane, Rosemiro, Mário Vieira, Eraldo e Tarciso. Agachados: Julião, Valdir Silva, Wilson, Rolinha e Canhoteiro. Foto/Acervo Valdir Silva.

Na capital amazonense, em princípio, Valdir Silva não pode jogar, uma vez que o Sporting Belém prendeu o seu passe. Mas depois, tudo deu certo e ele vestiu, sucessivamente, durante seis temporadas (até 1974), além do próprio Sul-América, as camisas do São Raimundo, da Rodoviária e do Olympico. “O futebol amazonense vivia uma grande fase”, garantiu Valdir.

E foi então que surgiu o convite para seguir rumo ao ocidente e descobrir o que é que tinha no futebol acreano. “O Independência precisava de um atacante para substituir o Rui Macaco, que estava saindo do clube. O técnico Té encarregou o armador Augusto, que já jogava no Tricolor, de encontrar alguém em Manaus. Aí ele me convidou e eu topei”, disse Valdir.

O Acre e o Independência: dois grandes amores

Valdir Silva se transferiu para o Independência em ótimas condições. Além de o salário ser maior do que em Manaus, ainda tinha todas as despesas por conta do clube. “O futebol acreano era amador, mas pagava bem. O meu salário quem pagava era o dirigente José Esteves. E as refeições eu fazia na casa do seu Moura. O dois eram diretores do Tricolor”, afirmou Valdir.

Seleção da Federação Acreana de Desportos – 1976. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Carlos, Cleiber, Tadeu, Illimani, Russo e Pintão. Agachados: Eli, Zé Gilberto, Valdir Silva, Ronildo e Anísio. Foto/Acervo Francisco Dandão.

O ex-craque foi titular do Independência até meados de 1980, quando decidiu voltar a Manaus. Mas foi por pouco tempo. Logo Valdir Silva descobriu que o seu destino estava irremediavelmente ligado ao Acre. Aí, em 1982, ele foi outra vez para o Acre, onde permaneceu por mais de 30 anos. “O Acre e os acreanos me deram tudo o que tenho hoje”, falou.

Independência – 1977. Em pé, da esquerda para a direita: Ilzomar, Valdir Silva, Belo, Melquíades, Armando e Deca. Agachados: Bico-Bico, Paulinho Pontes, Saúba, Júlio César e Dida. Foto/Acervo Ilzomar Pontes.

No seu retorno ao Acre, Valdir Silva não vestiu mais a camisa do Tricolor de Aço. Virou auxiliar técnico e depois diretor do clube. “Eu tinha 33 anos e ainda muita bola para gastar, mas o técnico Té não me quis mais como jogador, por entender que eu o tinha abandonado quando fui para Manaus. Aí o jeito foi eu exercer outras funções”, explicou o ex-artilheiro.

Independência – 1978. Em pé, da esquerda para a direita: Ilzomar, Deca, Belo, Santiago, Chiquinho, Henrique e Ronivon (técnico). Agachados: Valdir Silva, Rui Macaco, Laureano, Saúba e Tonho. Foto/Acervo Ilzomar Pontes.
O ex-atacante Valdir Silva, ao lado do filho, almoça como jornalista Francisco Dandão. Foto/Arquivo Francisco Dandão

Valdir, que hoje curte uma justa aposentadoria, ao lado da família, em Manaus, diz para todos os que se dispõe a ouvir que foi no Acre que ele viveu os melhores momentos da sua vida. “Eu só moro em Manaus porque os meus filhos estão aqui, mas eu amo o Acre, terra onde eu fiz grandes amigos e aonde vou sempre que possível”, finalizou o ex-craque tricolor.