Ventos do Norte

Sangue Latino, antiga canção da música popular brasileira, salvo engano dos anos de 1970, gravada pelo falecido grupo Secos e Molhados, cuja voz em destaque era a do hoje reconhecido astro Ney Matogrosso, pregava a ouvidos incautos que os ventos do Norte não moviam moinhos.

A minha condição de nortista me deixou deveras aborrecido com essa fraqueza dos ventos oriundos da região Norte, desde que eu ouvi a música pela primeira vez. E então, tratei de procurar, lá na adolescência, um geógrafo para me explicar os motivos dessa, digamos, baixa potência.

Na minha imaginação cheia de ufanismo à época, a canção entoada pelos Secos e Molhados se traduzia em mais uma manifestação de preconceito, emanada da ignorância de determinadas criaturas nascidas nas regiões Sul e Sudeste, para as quais só interessava o espaço do umbigo.

A minha busca, porém, demonstrou que não se tratava de mera figura de linguagem ou recurso para embelezar os versos da canção. De acordo com climatologistas e estudiosos das mais variadas colorações ideológicas, a partir da linha do Equador pra baixo o vento é mesmo só uma aragem.

A explicação para essa fraqueza dos ventos do norte, chamados de “alísios”, é a de que eles, sendo frios, perdem força ao se encontrar com a massa de ar quente equatorial. Misturam-se e deixam para trás a capacidade de mover praticamente tudo, inclusive os tais moinhos da canção do Ney.

Essa história toda me veio à cabeça por causa dos resultados das equipes do Norte do Brasil nas primeiras escaramuças de mais uma Copa São Paulo de Futebol Sub 20. Até a manhã de sexta-feira, 6 de janeiro, momento em que escrevo essa crônica, nenhum time nortista ganhou nada.

O São Raimundo (RR) perdeu duas partidas: 2 a 0 e 4 a 0. O Paysandu (PA) também perdeu dois jogos: 3 a 2 e 2 a 1. O Genus (RO) tomou duas peias de 6 a 0. O Fast (AM) foi goleado por 5 a 0. Mesmo placar da surra do Interporto (TO). E o Rio Branco (AC) perdeu uma de 2 a 1.

Como talento não escolhe lugar para nascer, tanto que existem vários jogadores saídos do Norte que brilham nos campos do planeta, como é o caso, por exemplo, do acreano Weverton, recentemente campeão olímpico, essa fraqueza dos times nortistas na Copinha só pode ser culpa do vento.

Os caminhos são tortos. São ruins os resultados dos times do Norte na Copinha. Equipe alguma dessa região jamais chegou à final. É preciso trabalhar para mudar essa situação. E ainda que reste “só um gemido”, como em “Sangue Latino”, o que mais conta agora, “é não estar vencido”.