Cresci ouvindo que a geração de 1982 foi perdedora. Que Zico não representa o melhor do futebol brasileiro por ter perdido um pênalti na Copa de 1986. Que o goleiro Barbosa foi o culpado pela derrota de 1950.
Agora vejo que o vexame de fato ocorreu em 2014. E que aqueles injustiçados tiveram feitos muito maiores do que o que estão hoje na seleção. Nem Neymar escapa, pois terá que penar muito para deixar sua marca na história.
A geração do ex-craque santista é um misto de deslumbramento, muito marketing e relampejos de futebol – nada a ver com o que vi no século passado com esse pessoal considerado derrotado com a camisa verde e amarela. Talvez seja por aí o início do caminho para se repensar o futebol brasileiro.
A estrutura gigantesca que atletas de hoje montaram mascaram a realidade de seu desempenho dentro de campo. A impressão é que são ótimos de bola, tem o domínio do esporte e conhecem a forma de superar planos táticos como ninguém. A mídia virou seu palco e não o gramado.
No fundo, me sinto enganado. Não produzimos mais craques como antigamente, mas a impressão era ao contrário antes da fatídica derrota contra a Alemanha na semifinal da Copa de 2014.
O Brasil perdeu há muito tempo o prumo da bola e tínhamos dificuldade de assumir isso. Achamos que Neymar era mais um exemplo de que somos um campo fértil de bons boleiros. Aparecia e aparece em tanta propaganda na mídia e ocupa tanto espaço na televisão dando entrevistas, que eu tinha a ideia que ele era uma joia gigantesca.
O arcaico Felipão convocou o melhor que o Brasil tem hoje. Estamos de frente para a dura realidade. No fundo, somos um País sem jogadores que não passam nem perto do nível daqueles que desprezamos em 1950, 1982 e 1986.
Com os clubes em estado falimentar sem condições de investir na formação de atletas, técnicos soberbos e dirigentes preocupados com seu próprio bolso (antes de mais nada), a Alemanha deu uma enorme contribuição ao futebol brasileiro: avisou que agora chegamos ao fundo do poço.