Vida violenta

Copacabana, bairro do Rio de Janeiro, local em que atualmente eu armo a minha rede, ultimamente está mais para subúrbio da Faixa de Gaza, onde israelenses e palestinos se aniquilam, do que para Princesinha do Mar, como foi denominada por um poeta num dia de céu azul e mar calmo.

Nos finais de tarde de sábados e domingos, hordas de bandidos percorrem as ruas do local, tocando o terror. Atacam sempre em bando. Jogam as vítimas no chão e levam tudo o que encontram. Quem estiver transitando numa hora dessas pode ser atacado. Ninguém está seguro.

Já passei duas vezes por uma situação de perigo. Para minha sorte, em ambas as vezes havia por perto uma porta de loja aberta para eu me refugiar. Posso dizer que ainda estou com a integridade física e do bolso incólume por pouco. Tenho certeza que o meu anjo da guarda está trabalhando em dobro.

O negócio tá tão feio que, por esses dias, uma vez que a polícia carioca não está dando conta de proteger os cidadãos de bem, uma turma de rapazes do bairro, adeptos das artes marciais, se uniu para combater a marginalia. Agora tem dois times nas ruas: o dos marginais e o dos combatentes.

Apesar de tudo isso que eu disse nos parágrafos anteriores, é preciso, por um critério de coerência histórica, a gente compreender que a violência não é uma questão localizada e nem um fenômeno do tempo presente. A história da humanidade está recheada de barbáries e crimes hediondos.

Agorinha mesmo, além do conflito entre israelenses e palestinos, aos quais eu me referi no início desta crônica, russos e ucranianos teimam em promover a extinção das fronteiras e das vidas uns dos outros. Há quase dois anos os caras se matam. E nem sinal de um acordo para um tratado de paz.

A violência, que fique bem claro, não tem tempo nem lugar. Até nos espaços onde a maioria das pessoas vai para se divertir, ninguém garante que tudo vai correr dentro da mais perfeita harmonia. Pelo contrário. Ao menor descontentamento, alguém parte para meter a porrada no desafeto.

Penso nisso ao lembrar das cenas de selvageria que tem se tornado cada vez mais frequentes em jogos de futebol. Dois momentos desses aconteceram em semanas recentes. Primeiro, antes do jogo entre Brasil e Argentina. Segundo, no rebaixamento do Santos à Série B do Brasileirão.

Na derrota do Brasil para a Argentina, eu fui testemunha ocular. O conflito foi bem perto de onde eu estava. Permaneci no meu lugar, mas mentalmente preparando uma rota de fuga, caso evoluísse para o meu lado. E no rebaixamento do Santos, vários carros foram incendiados. Ave, César!