A Europa vive uma onda de nacionalismo ferrenha. Dois problemas centrais têm criado isso: a crise econômica que se abateu na União Europeia e se arrasta há algum tempo, onde cada país empurra a culpa para o outro, e o êxodo cada vez maior de habitantes de países em guerra ou mesmo sem futuro, principalmente da África e Oriente Médio, para o continente.
Porém, é importante ressaltar que grupos de intolerantes e racistas, os quais se identificam os ultranacionalistas, sempre existiram na Europa. Mas é que em momentos de instabilidade, eles costumam sair mais do armário, botam a cara para fora, tentam galgar posições estratégicas na sociedade por meio de exaltações e discursos de perseguição – aqui no Brasil está acontecendo também isso, vale ressaltar.
Imagine um jogo de futebol importante onde se opõem países de posições antagônicas dentro desse caldeirão que vive a Europa hoje, ou mesmo um deles com situação extrema de nem querer saber o que se passa com o vizinho, diante de suas preocupações internas crescentes e pouco passíveis de solução a curto e médio prazo.
Isso é um barril de pólvora. Ainda mais quando envolvem torcidas historicamente problemáticas, onde esse tipo de organização é mais evidente à explosão de frustrações pessoais e políticas.
Na Eurocopa que se realiza em solo francês, torcidas da Turquia, Espanha, Hungria, Islândia, Croácia, República Tcheca, Rússia e Inglaterra se digladiaram. Em pelo menos dois países desses a ultradireita cresce assustadoramente, como é o caso da Inglaterra e Hungria. A Turquia tem sido rotineiramente alvo de atentado. A Espanha vive crise de emprego que perdura há anos. A Rússia convive com uma recessão econômica tão grande quanto à do Brasil. Croácia e República Tcheca são sinônimos de instabilidade na Europa desde que se tornaram independentes.
Enfim, a vida não está fácil para ninguém e isso ocupa os estádios da Eurocopa. Nesses ambientes crescem os temperamentos nacionalistas. A própria França é pródiga em xenofobia.
Não é possível prever que isso sairá de controle. A Europa é rigorosa com torcedores exaltados e punem para valer e severamente as equipes. Porém, o fato é que as brigas ocorreram acima da média, criando inquietação.
A solução passa por pacificação pelos países antes de qualquer coisa. Não espere que as pessoas se deem as mãos em um estádio de futebol em total ato de solidariedade uma com as outras. A partida de futebol é acima de tudo um confronto, ainda que pautado pelo espírito esportivo.
E é nesse envolvimento com o enfrentamento que o torcedor chega ao estádio. Alguns não levam a prática ao extremo. Mas outros chegam a ranger dos dentes, infelizmente – principalmente quando problemas existentes se confluem com a oportunidade de se expressar de alguma forma, ainda que violenta.