Mal acabado o jogo em que o Brasil foi desclassificado da Copa América do Centenário, eu comecei a receber mensagens de alguns chegados dando as suas respectivas versões para o insucesso da seleçãozinha do suposto treinador com nome de anão de história infantil.
O Ezequias Açaí Sarado, apesar de preocupado com a decadência do Rio Branco, que estreou na série D do campeonato brasileiro levando uma surra do roraimense Náutico, foi o primeiro a explicar a derrota do Brasil. “O caso, caro cronista, é que o Peru não morre mais de véspera”, disse ele.
Não deixa de fazer sentido. Essa seleção do Peru que aí está, disputando a Copa América quase totalmente renovada, provavelmente só contava com a confiança de alguns patrícios. Para a maioria dos apostadores do planeta ela só iria fazer figuração e morreria no dia anterior.
Já o advogado Joraí Salim, o zagueiro que mais chutou contra as próprias redes na história do futebol acreano, sujeito acostumado com as lides da filosofia do esporte, dele me chegou uma frase lapidar. “A questão é que esse Peru aí quando endurece não tem quem possa segurar”, afirmou.
Confesso que em princípio não entendi muito bem o que o doutor Joraí quis dizer. A frase me soou como um enigma. Até tentei analisar o enunciado de trás pra frente. Tudo em vão. Não consegui concluir nada de maneira tão definitiva. Mas se o Joraí falou é porque deve ser isso mesmo.
Enquanto isso, o meu “brother” Manoel Façanha tascou uma explicação mais pragmática, pela antecipação do próprio pensamento. “Eu cantei a pedra, professor. Eu sabia que esse vexame iria acontecer. Se a seleção já é ruim, com esse técnico fica pior”, garantiu com ares de triunfo.
Manoel Façanha é um estudioso do futebol. Os seus anos de janela, acrescidos dos seus conhecimentos de teoria da história e do jornalismo, faz com que as opiniões saídas da sua boca sejam quase irrefutáveis. E eu mesmo sou testemunha de que ele já havia tentado derrubar o Dunga.
Da minha parte, penso que todos os meus correspondentes tem as suas razões. O Peru não morre mais de véspera, quando endurece não dá mesmo para segurar e o vexame que se configurou era tão anunciado quanto aquela crônica famosa do falecido escritor Gabriel Garcia Márquez.
Só um detalhe escapou à percepção do Ezequias, do Joraí e do Manoel Façanha. Aquela mão que botou a bola nas redes do Brasil não foi a do jogador Ruidíaz. Pra mim aquela mão foi a de Viracocha, o criador do mundo na mitologia inca. Foi a mão do deus lá deles. Tenho certeza disso!