Volta do futebol tem mais especulação do que realidade

Apesar de alguns clubes da elite estarem passando treinos aos seus atletas, em casa ou nos próprios centros de treinamento dos clubes, a volta do futebol, de concreto e real, não caminha mais do que isso.

O fim precoce do Campeonato Francês, com o PSG decretado campeão, foi a medida mais realista tomada em relação ao esporte desde que a pandemia de coronavírus começou.

Não estou dizendo adiamentos, como a Eurocopa, Jogos Olímpicos e outras competições, por que isso, em tese, preserva acordos ou pode-se reafirmar outros com novas bases.

O duro é interromper uma competição, dizer que ela encerrou, decretar um campeão e renegociar todo imbróglio daquilo que foi tratado antes e não foi cumprido.

O futebol brasileiro não tem maturidade para lidar com isso. Nem de encarar a verdade de que nada irá acontecer em maio, junho e talvez julho e agosto.

Os franceses, mais práticos, já pensam para setembro o retorno do futebol, mesmo assim com restrições. Seguiram a recomendação do governo.

A indústria do evento, seja esportivo, de entretenimento e empresarial, é umas das mais atingidas com a pandemia. Especificamente, a questão da competição esportiva tornou-se complexa de se resolver, supondo que não se permita platéia no seu desenvolvimento, num primeiro momento, mas apenas a sua transmissão por qualquer plataforma, propiciando retorno financeiro com anunciantes e/ou assinantes.

A prática esportiva envolve, em geral, uma presença grande de profissionais no mesmo momento para sua realização em relação a outras atividades da indústria de evento. Se pegar os esportes coletivos, as mais atraentes de público e patrocinadores, a situação torna-se crítica.

O futebol, com sua volta no atual cenário caótico, onde claramente se vê descontrole global da propagação do vírus, tem os ingredientes para ser exemplo de como o retorno precoce das atividades econômicas será algo difícil e complicado.

Quantas pessoas se precisa para se colocar uma partida profissional de futebol de pé? No mínimo 50, em torneios mais modestos. Como controlar essa pequena aglomeração, altamente passível de ocorrer uma transmissão do coronavírus, a todo tempo e nas diversas partidas?

Caso num grupo desses, uma a duas pessoas desenvolvam a doença de forma assintomática no exercício da prática, danou-se. E não é difícil, mesmo com os protocolos que dizem querer implantar. E como ficarão os contratos nessa condição? Mesmo que nada aconteça, e o medo? E se alguém morrer?

Não há receita hoje com relação ao caso. E quase tudo que se tem é especulação. E quanto mais se tenta confrontar e desdizer a ciência, pior.