Zé Bellavista em foto recente. Foto/Acervo José Raimundo Freire.

Zé Bellavista: o goleiro que foi ídolo em times pequenos

FRANCISCO DANDÃO

No começo da carreira na primeira divisão do futebol acreano, em 1981, no gol do Andirá, o cidadão José Raimundo Freire, nascido em Xapuri, no dia 16 de outubro de 1955, aparecia na escalação com o nome de Zezinho. Mas aí, um dia, num jogo contra o Juventus, quando ele “desviava a bola com os olhos”, o cronista Chico Pontes passou a chamá-lo de Zé Bellavista.

O apelido pegou, tanto para dentro das quatro linhas quanto para a vida. Muita gente acha até que esse é de fato o nome próprio dele. E ele mesmo demora a atender alguém que porventura o chame pelo nome de batismo. O resultado daquele jogo contra o Juventus se perdeu na memória do tempo. “Parece que foi empate”, diz ele. O novo nome, porém, esse ficou.

Antes disso, quando ainda era Zezinho, na adolescência, o goleiro começou a aparecer para o futebolem peladas no campo do Independência. Pegava muito e logo foi convidado pelo professor Rivaldo Melo para jogar na Rodoviária, time de garotos que disputava animados torneios de fim de semana no campo do Vasco da Gama. Isso no início da década de 1970.

América (bairro São Francisco) – 1978. Em pé, da esquerda para a direita: Nico, Zé Bellavista, Pelé, Roberto, Edmilson, Gabriel, Beto e Regino. Agachados: Pixilinga, Pedro, Ramé, Toinho Russo, Raimundinho Bala, Assis e Manga. Foto/Acervo José Raimundo Freire.

Um pouco depois, Zé Bellavista foi brilhar no América do bairro São Francisco, sob o comando do técnico/volante Pixilinga. “Esse time era muito forte. Reunia o que havia de melhor nos bairros da Capoeira, Aviário e São Francisco. Teve um tempo que nós passamos quarenta jogos invictos. Era difícil ganhar da gente. O nosso time jogava demais”, garantiu o ex-goleiro.

Convite para jogar no Galo e contusão séria

Na época em que jogava na Rodoviária do professor Rivaldo Melo, Zé Bellavista foi convidado para treinar nos juvenis do Atlético Acreano. Quem o convidou foi o ponteiro-esquerdo Rivanildo, irmão do Rivaldo e do também jogador Rui Macaco. Zé Bellavista deveria se apresentar numa segunda-feira. Mas na véspera da apresentação ele se contundiu seriamente.

Andirá – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Mário Mota, Studio, Josué, Carlão, Uchoa e Zé Bellavista. Agachados: Dias, Zé Maria, Jorge, Carlinhos Chita e Sérgio. Foto/Acervo Francisco Dandão.

“No domingo, um dia antes do dia em que eu deveria me apresentar no Atlético, eu fui jogar uma pelada num time de um amigo meu. Aí, lá pelas tantas, numa bola dividida, um cara me acertou um violento chute no estômago. Saí do campo direto para o hospital. Fui submetido a uma cirurgia e fiquei cinco dias em coma. Passei um ano sem jogar”, disse o Bellavista.

Andirá – 1982. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Bellavista, Zé, Studio, Guto, Goiaba, Uchoa e Nizomar (dirigente). Agachados: Joãozinho, Pixilinga, Bodó, Da Guia e Castro. Foto/Acervo José Raimundo Freire.

Não houve para Zé Bellavista uma nova oportunidade para ingressar num dos chamados times grandes. E assim, depois de ficar uns anos no Andirá, ele foi defender o Vasco da Gama, a convite do professor Almada Brito, presidente do clube cruzmaltino, que o acompanhava desde os tempos da Rodoviária. Foi o último clube na carreira do goleiro Zé Bellavista.

Andirá – 1983. Em pé, da esquerda para a direita: Bebé (técnico), Josué, Studio, Carlão, Uchoa, Zé Bellavista, Lamparina, Castro, Sorriso (roupeiro) e Nizomar (dirigente). Agachados: Na Medida, Amenu, Valdir Pai Vei, Zé Maria, Leão e Pitu. Foto/Acervo José Raimundo Freire.

“Eu ainda poderia jogar muito tempo. Condição física para isso eu tinha suficiente. E o professor Almada Brito insistiu para que eu continuasse. Mas não dava mais. Eu já estava próximo dos 30 anos e tinha que cuidar da vida. Chegou uma hora que ficou impossível de conciliar os treinos com o trabalho. E ainda mais que eu era autônomo”, explicou o Zé Bellavista.

Andirá – 1983. Em pé, da esquerda para a direita: Nelson (diretor), Dodi, Manoel, Geraldo, Erasmo, Arthur e Zé Bellavista. Agachados: Paulo, Jorge Bocão, Paladino, Assis e Regis. Foto/Acervo José Raimundo Freire.
Vasco da Gama – 1984. Em pé, da esquerda para a direita: Iracélio, Zé Bellavista, Boroco, Zé Alberto, Toinho, Pedrinho, Nego e Ivo. Agachados: Neném, Papelim, Carlinhos Magno, Assis e Patrício. Foto/Acervo Francisco Dandão.

Defesa inesquecível e os grandes craques do futebol acreano

A defesa que não sai da memória do ex-goleiro aconteceu num jogo pelo Andirá, contra o Atlético. Já quase no final, o juiz deu um pênalti para o Galo. Manoelzinho cobrou com força, no canto. Bellavista defendeu. O jogo terminou zero a zero. “Se o Manoelzinho convertesse, não dava mais tempo fazer nada. Garanti o zero a zero com aquela defesa”, falou Bellavista.

“O Manoelzinho sempre dava trabalho. Mas tinha muita gente boa no futebol antigo. Além do Manoelzinho, tinha o Dadão, o Carlinhos Bonamigo, o Mariceudo, o Emílson, o Ulisses, o Paulo Henrique. Todos esses jogavam pra caramba. Já quanto ao técnico e ao dirigente, pra mim os melhores foram o Roberto Araújo e o professor Almada Brito”, afirmou Zé Bellavista.

“Na verdade”, continuou o ex-goleiro, “é muito difícil comparar o passado e o presente. Mas eu acho que antigamente tinha muito mais gente boa de bola. Na minha seleção, por exemplo, só entram os caras mais antigos. Vejamos: Ilzomar; Antônio Maria, Neórico, Cleiber e Duda; Emilson, Carlinhos Bonamigo, Mariceudo e Dadão; Roberto Ferraz e Testinha”.

Daniel (filho do Ze Bellavista), Rei Arthur e Ze Bellavista posam para o álbum dos peladeiros. Foto/Acervo José Raimundo Freire.

“Mas eu acho que nem tudo está perdido. O futebol acreano pode ainda melhorar e atingir degraus mais altos no Brasil. Para isso basta que se faça um bom trabalho nas divisões de base. Ainda tem muito menino bom de bola por aí esperando uma chance. O que é preciso é mais comprometimento dos dirigentes e apoio das autoridades públicas”, finalizou Zé Bellavista.