Eurico Miranda carregou por muito tempo a pecha de um inescrupuloso cartola-parlamentar – tinha motivos para isso. Agora, a bola passou para Zezé Perrella. O senador e ex-presidente do Cruzeiro personifica hoje a imoralidade na política e no futebol.
Ainda vice-presidente do Vasco, Eurico Miranda se tornou deputado federal em 1994. Apesar do cargo no clube carioca, mandava mais que o presidente. Foi nesse período que começou a acumular desafetos pelo seu jeito destemperado, e por apresentar métodos de gestão nada éticos.
Em 1998 foi reeleito deputado. Em 2001 quase perdeu o mandato por se tornar suspeito de evasão de divisas. No ano seguinte não conseguiu se reeleger, mas virou presidente do Vasco. Porém, já tinha acusações contra ele por desvio de recursos, crime eleitoral e enriquecimento ilícito, parte reunida no relatório de uma CPI do futebol realizada àquela época no Senado.
O jeito debochado em lidar com as incriminações o fez um personagem folclórico do futebol e da política, mas que no fundo não passava de um sujeito vil. Em 2014, depois de seis anos, Eurico Miranda voltou à presidência do Vasco.
Essa posição do Eurico de infame no meio político e futebolístico pertence hoje a Zezé Perrella. Ele ocupou quatro mandatos na presidência do Cruzeiro a partir de 1995. Foi eleito deputado federal em 1998 e deputado estadual em 2006. Tornou-se senador depois da morte de Itamar Franco, já que era seu suplente, permanecendo até hoje no cargo.
Como dirigente do futebol, foi acusado de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Já atuando no Senado, teve um helicóptero da família apreendido com quase meia tonelada de pasta básica de cocaína. O caso até hoje carece de explicação convincente, já que não houve condenação, embora a expressiva quantidade de drogas encontrada no aparelho revele indícios de rede de tráfico.
Mas a passagem de bastão da canalhice-mor da tabelinha futebol-política de Eurico para Zezé Perrella ocorreu por esses dias – logo agora que ele se preparava para voltar à presidência do Cruzeiro.
Zezé Perrella, na delação da JBS, segundo rastreamento da Polícia Federal, recebeu R$ 2 milhões por meio de uma empresa da família, recurso este desviado pelo seu aliado de longa data, Aécio Neves – o dinheiro, na verdade, tratava-se de propina pedida por Aécio a JBS.
Perrella disse que nunca recebeu “um real sequer” da empresa. Mas tomou lugar de Eurico como infame cartola-político pelas provas contundentes apresentadas nesse caso pela Polícia Federal; e pelo histórico de dribles na Justiça a partir das fortes suspeitas recaídas sobre ele de todo tipo – assim como o fez Eurico Miranda ao longo de sua vida.